Realizado em Brasília, o Seminário de reuniu especialistas, acadêmicos e profissionais do setor elétrico
Nos dias 3 e 4 de outubro, Brasília foi palco do I Seminário de Linhas de Transmissão – SELTE, realizado no Hotel Kubitscheck Plaza. O evento foi organizado pela Eng Smart Lead, empresa especializada em soluções de engenharia para o setor elétrico, e a Associação Brasileira das Empresas de Transmissão de Energia Elétrica – ABRATE, e reuniu especialistas, acadêmicos e profissionais do setor elétrico para discutir o futuro das linhas de transmissão no Brasil.
Entre os presentes estavam o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, MME, Fernando Colli, o secretário de Leilões da Agência Nacional de Energia Elétrica, Aneel, Ivo Sechi, o vice-presidente da ABRATE, Jorge Bauer, e o CEO da Eng Smart Lead, Josias Matos de Araújo.
O evento destacou a capacidade do Brasil de enfrentar os desafios impostos pelas severas mudanças climáticas, com ênfase nas melhorias e avanços no setor de transmissão de energia. Fernando Colli, do MME, afirmou que o país está preparado para lidar com esses desafios e destacou ainda que “nos últimos 25 anos a capacidade das linhas de transmissão triplicou, atingindo mais de 185 mil quilômetros, o que permite otimizar a operação e beneficiar o consumidor final”. Essa expansão foi corroborada pelos dados trazidos pelo secretário da Aneel, Ivo Secchi, que destacou que 150 bilhões foram investidos em reforços e melhorias em Linhas de Transmissão.
O seminário foi fortemente elogiado entre os participantes e palestrantes, destacando-se pelo recorde de inscrições e pela relevância dos temas abordados durante os dois dias de evento. A interação foi um ponto chave que permitiu a colaboração e compartilhamento de ideias para a formação de um “setor energético mais robusto e aperfeiçoado”, afirma José Alexandre, professor da Universidade de Brasília (UnB) e um dos moderadores dos painéis.
Debates
O seminário contou com painéis e mesas redondas que abordaram desde marcos regulatórios até a otimização das operações de transmissão de energia.
Carlos Kleber da Eletrobras Cepel foi o primeiro palestrante do painel “Modernização de Normas Técnicas Aplicáveis a Linhas de Transmissão” moderado pelo professor José Alexandre, com a apresentação sobre os principais aspectos da Norma Brasileira – NBR 5422, ponto este que foi bastante discutido para haver uma“pesquisa mais incisiva em micro explosões”. E não somente ligada a este tema específico, mas foi consenso entre os participantes que é necessário a criação de novas normas que acompanhem o desenvolvimento do mercado energético brasileiro pois as normas que são utilizadas atualmente já estão obsoletas e necessitam no mínimo ser revisadas.
A palestra seguinte ficou por conta de Francisco Mesquita, da Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista – ISA CTEEP, em parceria com Douglas Braga, da Transmissora Aliança de Energia Elétrica S.A. – Taesa, sobre balanço assíncrono, processo onde diferentes partes de um sistema funcionam sem sincronização. E o que pode estar direta ou indiretamente relacionado às 11 ocorrências de desligamento por curto-circuito que foram registradas em um período de 52 dias, segundo dados trazidos pelos mesmos durante a palestra. Douglas Braga também reforçou a importância de estabelecer uma norma específica para emendas performadas em linhas de transmissão, pois segundo ele, essa padronização contribuiria diretamente para a redução de falhas operacionais e até mesmo contribuir para “diminuir esses curtos bifásicos” evidenciados na pesquisa.
Para encerrar o primeiro painel, Pedro Henrique Soares Vilela, da Neoenergia, abordou a normatização da “Aplicação de estacas helicoidais em linhas de transmissão”, ressaltando como a adoção de padrões técnicos pode melhorar a confiabilidade e a durabilidade das estruturas.
Mudanças Climáticas
Já o segundo painel da conferência abordou o tema “Alternativas de Projeto de Linhas de Transmissão sob as Novas Condições Climáticas” com moderação do consultor José Henrique Machado Fernandes, Fábio Fraga, da Eletrobras, iniciou as discussões com uma apresentação sobre os “Desafios e perspectivas para as linhas de transmissão em um cenário de mudanças climáticas”. Ele ressaltou um ponto crítico: o aumento da umidade intensifica a corrosão dos equipamentos e a erosão do solo, o que representa um desafio significativo para a infraestrutura das linhas de transmissão.
Na sequência, o consultor Paulo Gomes apresentou uma “Análise crítica sobre os novos aspectos a serem considerados nos projetos de linhas de transmissão”, ressaltando a importância da resiliência em face das novas realidades climáticas. Gomes destacou como essas alterações exigem uma reavaliação das práticas atuais.
Novas Tecnologias
Rogério Peixoto Guimarães, da Sae Towers, compartilhou detalhes sobre seu “Projeto Eletromecânico de Torres”, que investiga o aumento das velocidades de vento e seus reflexos nas hipóteses de carregamento das estruturas para as linhas de transmissão. Sua apresentação abordou as adaptações necessárias para garantir a integridade das torres em face das novas exigências climáticas.
O terceiro painel da conferência teve como tema “Novas Tecnologias em Recapacitação e Traçados de Linhas de Transmissão” e foi moderado por Antonio Varejão de Godoy, da Eletrobras, que trouxe questões importantes sobre aperfeiçoamentos no setor de transmissão de energia, focando em soluções mais eficientes e sustentáveis.
Caio Barra, da empresa Tabocas, deu início às palestras apresentando inovações voltadas para aumentar a confiabilidade das fundações de linhas de transmissão. Em sua apresentação, Barra destacou a importância de um design bem estruturado e de tecnologias avançadas para garantir a estabilidade das estruturas diante das mudanças climáticas.
Recapacitação
Em seguida, Marcos Fernandes, representante da Shemar Latam, tratou da recapacitação por meio do uso de cruzetas isoladas (CICA). Esse foi um ponto relevante, especialmente considerando que muitas linhas de transmissão no Brasil estão em operação há mais de 30 anos. Durante a discussão, questionou-se a viabilidade de investir nessas tecnologias para reestruturação de infraestruturas antigas. Marcos apresentou soluções que demonstraram a eficácia da manutenção dessas linhas, ressaltando que essa abordagem não apenas prolonga sua vida útil, mas também gera economia tanto ambiental quanto financeira, pois a construção de novas linhas implica na emissão de mais carbono na atmosfera, e consequentemente mais aplicação de recursos do setor.
O painel foi encerrado com as apresentações de João José Alves de Paula, da Alubar, e Lucas Gomes de Araújo, da EDP, que discutiram novas tecnologias em recondutoramento de linhas de transmissão. Eles apresentaram a nova tecnologia de cabos ACFR (Aluminum Conductor Fiber Reinforced em português Condutor de Alumínio com Núcleo Reforçado com Fibras) em substituição ao atual cabo ACCR (Aluminum Conductor Composite Reinforced em português Condutor de Alumínio com Núcleo Reforçado com Material Compósito), com diversas vantagens. Eles são termorresistente, são mais leves, conduzem bem mais energia em comparação aos convencionais e “embora seja um cabo mais caro pode haver economia a longo prazo”.
Ao final do primeiro dia da conferência, uma mesa redonda discutiu o tema “Linhas de Transmissão: Modernização, Alternativas de Projetos e Novas Tecnologias”. O debate contou com a mediação de Carla Damasceno Peixoto, da Mendes Holler.
Confira também: I SELTE: Seminário destaca a importância da segurança e qualidade do fornecimento de energia